Chegando em casa, Túlio notou
que a porta da sala estava entreaberta. Ele nunca deixou de verificar
as portas e as janelas quando saía. Então, entrou bem devagar
olhando tudo à sua volta. Na sala e na copa, parecia tudo normal.
Continuou andando sempre com muita atenção. Quando chegou na
cozinha, percebeu que as janelas estavam abertas, mesmo tendo certeza
de tê-las fechado antes de sair para o trabalho.
_ Este trabalho já está me
deixando louco. – Pensou, enquanto tomava um café frio que
preparou antes de ir trabalhar. Exausto, ele decide ir ver televisão,
para que a “Grande Tristeza” não pese ainda mais sobre seus
ombros, pois tudo que ele faz é para mantê-la longe de si.
Depois de algum tempo, Túlio
se cansa de ver sempre as mesmas coisas na televisão. Antes mesmo de
conseguir desligar o aparelho, ele cai no sono.
Agora, ele está vulnerável.
A “Grande Tristeza” irá castigá-lo novamente, com seu pior
pesadelo: Estava vendo novamente Fernanda, sua bela e doce filha, com
a rosa mais bonita que ele já havia visto. Vermelhinha, com um tom
muito forte, e as pétalas abertas na mais perfeita simetria,
correndo na sua direção após ele ter chegado do trabalho.
_ Trouxe para você papai. –
Disse, enquanto dava um abraço apertado em Túlio.
Mas algo estava estranho.
Naquela noite, Túlio dormiu olhando para a rosa, pois ela realmente
chamou sua atenção. Sonhou que estivera na cozinha, pegado uma faca
e cortado o pescoço de sua mulher, enquanto tampava sua boca e a
imobilizava com uma força sobrenatural. Logo após, sua filha veio
correndo até o quarto da mãe.
_ Por que papai? – Perguntou
para Túlio, mas assim que acabara de falar, estava com uma faca
perfurando seu pulmão, e sua mãe com o pescoço cortado atrás
dela. – Foi por minha causa que vocês discutiram de novo?
Desculpe-me, sei que pegar aquela rosa foi errado, mas eu queria
muito dá-la como presente para você. – Disse, logo antes de cair
no chão, morta pelo próprio pai.
Este não era apenas um
pesadelo. Era uma visão, completamente nítida do que ocorrera dois
dias atrás, mas que ele até hoje Túlio não compreende o que
aconteceu para fazer isso com as duas mulheres de sua vida. Só se
lembra de ter acordado no outro dia e tê-las visto mortas com vários
cortes, porém sem sangue algum. Talvez aquela rosa estivesse mais
viva e com sua cor mais forte naquela manhã...
Porém, havia algo diferente
desta vez. Seus lindos e inocentes olhos azuis haviam sido
substituídos por aterrorizantes olhos negros, que não choravam:
apenas saía sangue.
Assustado, Túlio resolve
tomar um banho para relaxar, porém ao passar pelo quarto que era de
Fernanda, ele percebe um vulto, e uma voz ecoa pela sua cabeça:
_ Por que papai? Eu te amava
muito. Veja o que você fez comigo! Aquilo não foi um acidente...
Desesperado, ele corre até
seu quarto, e antes mesmo de se virar para fechar a porta, ela já
está trancada. Suas cortinas, antes azuis e sem vida, estão agora
com manchas vermelhas, cobertas por sangue.
_ Oh, Túlio, já não quer
mais brincar com nossa filhinha? Ela está aqui comigo, e quer muito
brincar com você. Este lugar para o qual você nos mandou é muito
escuro e sombrio, e estamos nos sentindo sozinhas.
Subitamente, Túlio se vê
preso, mas não há correntes ou cordas o amarrando. Reúne todas as
forças para gritar, mas não sai um único som da sua boca.
_ Já quer ir embora papai?
Mas nem começamos a brincar!
De repente, ele as vê: Sua
mulher e sua filha, ambas com os olhos negros e sorrisos
horripilantes. Em suas mãos, há facas iguaizinhas àquela usada
para matá-las.
_ Vamos querido, qual o
problema? Você está com medo?
Então, as duas criaturas
começam a colocar a ponta de suas facas em Túlio, a mulher na parte
da frente, e a criança nas costas. Depois de perfurar, elas deslizam
as facas bem devagar, sorrindo.
E então começam. Fazem
cortes profundos, chegando até os ossos. Arrancam seus órgãos e
membros. Quando percebem que Túlio já não aguenta mais, ambas
ficam de frente para ele, e então, com um sorriso atormentador,
cortam seu pescoço, num movimento simples e lento, até retirá-lo
completamente.
Passados vários dias, alguns
vizinhos resolveram entrar na casa, pois não havia sinais de Túlio
em lugar algum. Quando chegaram em seu quarto, viram o corpo
totalmente desmembrado e cortado em pedacinhos, sendo quase
impossível reconhecer.
Depois de limparem o local,
uma garotinha viu no exato local onde estavam os pedaços do corpo
uma rosa, igual á que Fernanda havia pego, porém com um
vermelho–sangue ainda mais vivo, mais intenso.
Ela sabia que não poderia
pegar a rosa, porém achou que como ninguém havia visto, não
haveria mal algum, pois era apenas uma flor, e não havia mais
ninguém que iria se interessar por uma flor naquelas circunstâncias.
Decidiu levá-la para casa, e
presentear seus pais com a mais linda rosa que já havia visto.
19 – 201
conto bem explicado e bem organizado e também gostei muito da historia
ResponderExcluirJadson 13 (204)