sábado, 21 de setembro de 2013

A ponte secreta

Os irmãos Catarina e Damião haviam encontrado uma estranha e pequena porta na parede do porão, mas sua mãe interrompeu a brincadeira chamando-os para se deitar... Tiveram de conter a curiosidade para o dia seguinte. Quase não conseguiram dormir. Passava mil coisas pela cabeça de cada um, mas enfim pegaram no sono. No outro dia, chegando em casa depois da aula, foram direto ao porão, correram logo para portinha cheios de esperança, mas infelizmente ela estava trancada.
Sendo a casa nova foram até a mãe, que disse que não sabia e que eles não deviam mais aborrecê-la, pois ela tinha muito trabalho.
Catarina então disse, sendo ela a mais espoleta:
_Mamãe não sabe onde está essa chave, então eu te desafio a achá-la, se o fizer lhe dou o meu porquinho, tem muitas moedas lá!
_ Arriscaria seu porquinho desta forma? _ Disse Damião.
_ Bem, estou muito curiosa pra saber o que tem lá.
Passaram bastante tempo à procura, um dia inteiro, mas não havia problema, porque não haveria aula no dia seguinte, era fim de semana, e pela manhã bem cedo já estavam à porta. Ao abrir se deram com um enorme corredor escuro, sujo, e bem de leve escutavam o som de um piano, foram logo atrás do som:
_ Que engraçado esse som em um lugar como esse.
_ Bom, de qualquer forma é um bom lugar para se esconder dos castigos e das tarefas também.
Catarina e Damião, apesar de serem apenas crianças, davam muito trabalho aos pais, não respeitavam e só faziam bagunça, e bem lá no fundo de cada um deles achavam que tinha a pior vida de todas, porque os pais nunca tinham muito tempo para eles, por isso faziam tudo de errado.
Quando enfim chegaram ao lugar de onde vinha o som, havia uma pequena janelinha onde podiam ver o interior de uma outra casa, e assim se repetia logo mais a frente, logo mais a frente e logo mais a frente de novo. Catarina observando, disse:
_ Que legal, esse corredor dá em todas as casas da rua, podemos ver tudo o que os outros fazem.
_ E também como a vida deles é bem mais legal!
Dia após dia os irmãos ficavam a uma janelinha observando a vida dos outros, dos seus amigos de escola, de uma velhinha viúva que vivia sozinha, de um casal que não tinha filhos e por isso tinham inúmeros gatos, e muitos outros.
As coisas em casa estavam sempre mais distantes, os pais sempre trabalhando, então sempre que podiam escapar iam para o corredor que já o chamavam, de “ponte secreta”, e lá ficavam observando a vida dos outros.
Mas com o tempo começaram a ver que a vida da senhora viúva era muito solitária e triste.
A vida do casal também era muito difícil, sempre estavam tristes porque não podiam ter filhos.
E o que os deixaram ainda mais espantados, a vida de seus amigos, que acreditavam ser melhor do que a deles, era muito pior, alguns viviam mais com a babá, outros os pais eram muito severos. De todas as casa que haviam na rua, uma prendeu a sua atenção completamente, era de um colega de escola do qual não gostavam muito, ele não tinha os pais, morava com o tio que lhe dava muito amor e atenção. A partir dali viram então que seus pais eram muito importantes, foram correndo para eles e contaram tudo, tudo o que sentiam. Os pais apesar de lhes dizer que era feio bisbilhotar, passaram a dar muito mais atenção aos filhos, e estes começaram a visitar a senhora viúva e o casal sem filhos. Passaram a ser melhores em tudo que podiam.

02 – 201

Um encontro inesperado

Flávia estava em uma festa na casa de amigos. A festa estava boa, mas já estava quase no fim e ela decidiu ir embora com uma amiga. Despediram-se de todos e foram caminhando para casa às 11 horas da noite. No caminho não havia muita gente, pois estava muito frio naquela noite. De repente, Júlia, a amiga de Flávia, avista um menino sentado no passeio com um violão. Júlia olha muito assustada para Flávia. As duas se encararam por alguns segundos e tiveram a mesma ideia. De ir conversa com o menino mesmo sabendo dos riscos que poderiam correr. Então elas se aproximaram do menino. Júlia começou o diálogo.
_ Oi, tudo bem? Eu e minha amiga Flávia estava passando por aqui e vimos você sentado no passeio com este violão, você está se sentido bem? Precisa de ajuda para algo?
Então o menino estranhamente respondeu que precisava de apenas alguns minutos de conversa com alguém. Flávia rapidamente o questionou se as duas serviriam para conversar. Ele demorou um pouco para responder Flávia, mas assim que respondeu falou calmamente e que obviamente as duas serviriam, que apenas queria conversar com alguém.
Então Flávia e Júlia sentaram-se com o menino, e começaram a conversa sobre tudo o que ele gostava de fazer, qual era o nome, qual era a idade, e tudo mais. Mas Flávia estava muito ansiosa para fazer apenas uma pergunta: PORQUE ELE ESTAVA SENTADO NO PASSEIO COM UM VIOLÃO!
Ele falou que seu nome era Bernardo, tinha 17 anos, amava compor músicas e cantar.
Pouco Flávia tinha notado a beleza de Bernardo pelo fato de estar à noite, mas logo viu que ele era um menino muito bonito e ficou repletamente entusiasmada com a conversa.
Então ao decorrer da conversa Flávia fez a pergunta que tanto afligia sua mente.
_ Bernardo, algo me incomoda e eu tenho que lhe perguntar. Qual seria o motivo de você estar sentado aqui no passeio sozinho a esta hora da noite?
Ele de imediato respirou fundo e respondeu:
_ Então Flávia, eu estava esperando você.
Flávia se assustou porque nunca tinha visto aquele menino pelas redondezas do seu bairro. Assim ela o questionou.
_ Como assim? Eu? Por quê?
_ Sim, você mesma. Porque, Flávia, há muito tempo venho acompanhando você bem de longe, tinha medo de me apresentar a você, medo de rejeição ou algo do tipo. Você tem sido a inspiração para minhas canções e hoje com ajuda da Júlia, que vem me ajudando a saber tudo sobre você, eu estava aqui somente te esperando para conversar e cantar a música que fiz pra você.
Flávia, olhou firmemente para a amiga. Então Júlia começou a rir e falou:
_ Amiga, só estava tentando ajudar.
Assim, Bernardo posicionou o violão e começou a cantar para Flávia.
Flávia muito atenta só observava cada estrofe da música e sorriu brevemente. E logo a canção terminou. Bernardo com um enorme sorriso no rosto se levantou e pediu ela em namoro. Flávia obviamente aceitou. Ele retirou do bolso uma caixinha dourada e abriu, retirando um singelo e perfeito anel para ela.
Flávia muito feliz colocou o anel no dedo, e assim Bernardo a deixou em casa juntamente com Júlia, que só ria de toda aquela situação.

02 – 202

O mistério da casa de Oliver

Chegando em casa, Oliver notou que a porta da sala estava entreaberta. Ele nunca deixou de verificar as portas e as janelas quando saía. Então, entrou bem devagar olhando tudo a sua volta. Na sala e na copa, parecia tudo normal. Continuou andando sempre com muita atenção. Quando chegou à cozinha Oliver percebeu que algo ou alguém tinha mexido em sua geladeira, feito uma bagunça, coisa que apenas um animal ou um ser humano em fúria conseguiria fazer. Sua geleia preferida de morango estava espalhada pelo chão, juntamente com o espaguete do almoço que ele haveria guardado para comer no jantar, afinal, seu trabalho é cansativo e nada melhor do que chegar em casa, tomar um ótimo banho e não precisar preparar nenhuma refeição. Mas não era isso que estava acontecendo, a sexta-feira à noite que Oliver tanto esperava depois de um dia de trabalho exaustivo no escritório Portland holdings Inc. Oliver viu sua vida se transformar em um pesadelo à medida que iria se dando conta que alguém entrara em sua residência e não tinha a certeza se havia a deixado. Então resolveu acionar a polícia, mas percebeu que tinha deixado seu celular no escritório e misteriosamente seu telefone residencial não estava funcionando e o pânico adentrou em Oliver. Ele começou a suar frio, suas pernas estremeceram e a cada minuto que passava ele sentia que uma presença do mal estava em sua casa.
Passados alguns minutos, Oliver sem reação no primeiro andar de sua casa, a campainha toca e Oliver corre para atender e sua vizinha linda de olhos castanhos médios de um corpo de dar inveja a qualquer um adentra em sua casa e Oliver se esquece do que estava acontecendo em sua casa, ele ajeita o cabelo e então pergunta:
_ O que faz aqui, Annie?
E então ela responde:
_ Eu estava me sentindo solitária em minha casa, então resolvi passar aqui, como fazemos toda sexta-feira, você se lembra?
E Oliver então se dá conta que se esquecera de seu encontro secreto com Annie todas as noites de sexta, era um encontro secreto, não porque eles eram comprometidos, mas sim porque ele queria relembrar sua juventude, Oliver tem 35 anos e Annie apenas 25, mas isso não interfere na relação dos dois.
Annie beija Oliver que então a beija ferozmente, porém eles escutam um barulho vindo do andar de cima e então Oliver se lembra das coisas estranhas que estavam acontecendo em sua casa.
Annie o pergunta depois de alguns segundos olhando para cima:
_ Quem está lá em cima?
E Oliver responde:
Eu não faço ideia, eu acabo de chegar do trabalho e avistei a porta entreaberta e a geladeira revirada.
Annie assustada diz:
_ Acione a polícia, agora!
Oliver explica que já havia tentado, mas sem êxito. Annie então pega o celular e vê que está sem sinal e fica preocupada.
Annie pega uma faca e Oliver um taco de baseball e então começam a subir as escadas vagarosamente e vão para o quarto de Oliver e nada encontram lá, mas no quarto de hospedes eles têm uma surpresa.
Eles se deparam com uma raposa faminta, à procura de comida, e eles correm, mas a raposa estava mais assustada que eles e fica parada no quarto. Eles correm rindo do acontecido e chamam as autoridades que capturam animais, levam a raposa para uma floresta mais próxima e a solta e acrescentam que nunca tinha acontecido isso em uma cidade tão populosa.
Mas o que intriga Oliver e Annie é como a porta se abrira se era apenas um animal que estava lá?

02 – 203

Antigos vizinhos

Sérgio e Marlon estavam brincando na rua de baixo da casa deles, quando avistaram uma casa abandonada, com uma parte do muro derrubada. Essa casa era muito grande e com uma arquitetura bem antiga. Curiosos, entraram no lote para verem mais de perto, ao se aproximarem notaram que uma melodia muito suave vinha da casa. Marlon o mais corajoso, quis logo se aventurar em invadir, mas Sérgio tinha receio de que na verdade alguém pudesse habitar ali, de forma muito discreta e solitária. Marlon conseguiu convencer o amigo e juntos seguiram em frente, a porta escura foi aberta pelo mesmo, e aquele aroma se tornava mais adocicado, este dia em especial estava muito ensolarado, e dentro daquela misteriosa casa, estava tão escuro quanto a noite; nas janelas cortinas pesadas não deixavam que a luz passasse.
Marlon e Sérgio se encantaram com a delicadeza da antiga mobília, e dentre tudo, havia um baú que chamava atenção, sua fechadura tinha um formato muito particular, e logo os dois amigos saíram em procura da chave, que logo foi encontrada por Sérgio numa gaveta empoeirada, apressaram-se em abrir o baú, e então, dentro dele, viram que se guardava apenas um pequeno e velho diário, de capa bege de tecido. Abriram-no. e nada continha escrito.Nele, apenas um desenho curioso de traços escuros e bem marcados; um sol. Marlon cada vez mais revirava toda a casa em busca de algo, e a poeira subia por toda a sala, foi quando Sérgio, abriu a janela e as cortinas, fazendo isso com o diário na mão, notou que de repente o pequeno livro se aqueceu muito.
Sérgio abriu o livrinho bege novamente, e desta vez linhas e mais linhas escritas estavam ali. Chamando o amigo para ver, Sérgio puxou duas cadeiras para frente da janela, os amigos sentaram-se e começaram a ler, o que pertencia a uma tal de Manuela, ali ela documentava sua aprendizagem de magia, e também falava sobre o amor que nutria por seu tutor Paolo; há muito tempo ela viveu naquela casa, mas algo trágico fez com que ela tirasse a própria vida, Manuela, acidentalmente matou seu tutor, quando tentava encanta-lo como uma poção do amor que ela fez, que pela sua inexperiência deu errado, e custou a vida de ambos.
Marlon e Sérgio, ainda não haviam encontrado a fonte daquele aroma, mas acabando de ler o diário subiram para o segundo andar, e lá o aroma os deixou maravilhados, encantados na verdade, seus instintos, seus raciocínios se perdiam, e logo seus corpos não os obedeciam, num instante Marlon estava com um frasco na mão, e abrindo-o liberou um encanto, que fez com que ele e seu amigo não exitassem em beber do conteúdo desconhecido; beberam. Por um momento sentiram-se apaixonados, sentiram-se felizes, e imortais até, mas então uma dor cresceu no peito dos dois, e os sufocava.
Os amigos despertaram-se do transe, e desesperados como se afogassem, começaram s rebater pernas e braços, até que se abraçaram, e caindo juntos no chão perderam a consciência, ou mais do que isso, seus corpos desapareceram junto com suas vidas, mas o frasco, ainda não está vazio, e a casa agora está de janelas abertas, logo o aroma, alcançará novos olfatos, novos corpos, novos amigos, antigos vizinhos.

02 – 204

Dádiva e dívida

Patrícia estava em uma festa na casa de amigos. A festa estava boa, mas já estava quase no fim e ela decidiu ir embora com uma amiga. Despediram-se de todos e foram caminhando para casa às 11 horas da noite. No caminho não havia muita gente, pois estava muito frio naquela noite. De repente elas se depararam com Pedro, uma antiga paixão de Laura (a amiga que acompanhava Patrícia).
As duas ficaram totalmente extasiadas ao vê-lo, já que 8 meses atrás Pedro tinha saído da cidade e ido para Londres, onde decidiu morar com seus tios para estudar Medicina.
Incrível! — disse Pedro num tom meio tímido — Vocês ainda são exatamente as mesmas de 8 meses atrás.
Em 8 meses não se muda muita coisa. — Laura disse repentinamente, talvez tentando insinuar alguma coisa.
Se deu então um longo silêncio, mas foi logo quebrado por Patrícia...
Olha, eu vou deixar vocês dois aí conversando enquanto eu... dou uma olhada ali naquelas árvores. — Disse Patrícia, num tom irônico meio cômico.
Patrícia foi se afastando lentamente tentando ouvir alguma coisa, mas a tentativa foi inválida já que o silêncio permanecia entre Pedro e Laura.
Quando se deu por si, já estava bem distante dos dois, mas perto o suficiente pra ver Laura estralando os dedos e mexendo no cabelo a cada dois minutos. — Ela sempre age assim quando está nervosa — pensou Patrícia em voz alta.
Seus pensamentos e críticas logo foram interrompidos...
­— Já te disseram que é perigoso sair andando sozinha e desatenta a essa hora da noite? — disse alguém, que era totalmente desconhecido por Patrícia.
Oi? Não, mas já me disseram que é perigoso falar com estranhos, com licença. Patrícia não poderia ter sido mais ignorante.
Henrique! — gritou o estranho ao ver Patrícia se afastar.
Ãn?!
Meu nome, Henrique... e o seu?
Não acho que eu seja obrigada a dizer.
­— E não é, me diga só se quiser.
Ela não tinha notado ainda, mas se virou pra traz e percebeu que o tal estranho, Henrique, era totalmente charmoso, talvez o mais charmoso que ela já tinha visto. Olhos pequenos, e o sorriso mais lindo que poderia existir. Naquele momento Henrique fez com que Patrícia se sentisse totalmente com raiva pela sua ousadia, e atraída pela sua beleza, e isso com certeza a fazia se sentir muito idiota.
Após ficar feito tonta admirando a beleza de Henrique, ela resolveu se manifestar.
Patrícia... ­­— sussurrou ainda hipnotizada.
Como?
Patrícia! — dessa vez disse em alto e bom som. — Que é? Além de estranho é surdo?
Apesar de estar totalmente encantada, Patrícia era “marrenta”, e isso era o que a tornava interessante para os garotos. Sabendo disso, ela não poderia perder a marra, não agora.
Hahahahaha! — Henrique deu uma gargalhada tão alta e forte que Patrícia não poderia saber se ele achou engraçado ou se debochava dela. — Porque saiu tão cedo da festa?
Estava totalmente cansada, e minha amiga também então... — sem que ela pudesse perceber já estava conversando com Henrique como se ele fosse um conhecido.
Mas... onde está a sua amiga?
Estranho, surdo e cego, pena que não é mudo. — Patrícia disse totalmente sarcástica e finalizou a frase dando seu melhor sorriso de ironia.
Ou talvez você seja maluca, porque aqui não tem ninguém além de mim e você. — Henrique disse olhando em volta e sorrindo.
Quando Patrícia olhou ao redor notou que realmente Laura e Pedro já não estavam mais à vista, então começou a andar em direção de onde tinha os deixado, sendo seguida por Henrique.
Eles têm que estar aqui, como pode? Será que eu andei demais? — disse Patrícia em total desespero.
Seu desespero foi interrompido por uma mensagem de Laura “Amiga, você sumiu, eu vim pra sua casa e estou te esperando aqui, está tudo bem?” Patrícia suspirou aliviada e respondeu a mensagem. Depois disso se virou para Pedro e disse:
Eu preciso ir, minha amiga está me esperando.
E eu também estarei.
Oi?
Eu estarei te esperando amanhã, aqui mesmo, às duas da tarde, pode ser?
Pode. — Patrícia se arrependeu antes de terminar de dizer. — Eu... preciso ir, tchau.
Antes que ela pudesse olhar pra trás Henrique já tinha sumido, então ela foi para casa.
>Sua maluca! Onde você estava cretina? Eu e Pedro te procuramos por um tempão. — já foi dizendo Laura, brava e curiosa.
Ah, não importa, me diz você. E o Pedro, e vocês, e aí?
Conversamos muito pouco, na maior parte do tempo reinou o silêncio, trocamos telefones e ele ficou de me ligar.
Mas você acha que vocês vão se resolver?
Não sei, não sei se quero, muita coisa mudou...
Tá louca? E todos esses meses que eu fiquei ouvindo o nome dele a cada dois minutos? Foi em vão? — disse Patrícia tentando aliviar a tensão que a amiga transparecia.
As duas riram e conversaram bastante ali mesmo. Subiram para o apartamento de Patrícia e enquanto ficaram comentando e rindo sobre a festa, Patrícia não pode deixar de notar que Laura olhava muito para o celular. Ela sabia que a amiga gostava muito de Pedro, mas também sabia que ele não era dos mais confiáveis. Ela se lembrava perfeitamente de quando Pedro fez sua amiga sofrer pelo fato de ter sumido da cidade de repente, e ela sabia que Laura ainda precisava dela assim como precisou a alguns meses atrás quando tudo aconteceu. Entre tantos pensamentos, Patrícia se pegou pensando: Engraçado, nunca fui deixada, meu coração nunca foi partido por ninguém, isso é uma dádiva ou uma dívida? Já ouvi tanto que sofrer faz parte da vida. Sorriu, pois se sentia totalmente forte, e precisava ser, já que Laura era muito frágil. Era assim, exatamente assim, Patrícia era sempre o porto seguro de Laura, e nunca sequer precisou de um conselho ou qualquer ajuda que não fossem relacionados a roupas.
Patrícia não comentou nada com Laura sobre o gato estranho, e ainda estava pensando se ia mesmo se encontrar com Henrique no dia seguinte.
As duas adormeceram enquanto fofocavam, o dia amanheceu e Laura foi pra sua casa. A manhã inteira Patrícia ficou vivendo o famoso “Vou ou não vou?” quando olhou no relógio e viu que já eram uma da tarde, decidiu se arrumar e ir.
Quando chegou lá Henrique já estava, ele sorriu pra ela de longe e veio andando em sua direção.
Algo me dizia que você viria mesmo. — disse Henrique em meio a um sorriso encantador.
Ah, para, eu decidi vir de última hora, você não está podendo tanto assim. — Laura se viu totalmente nas mãos de alguém em tão pouco tempo, isso nunca havia acontecido, e por mais que ela se sentisse com medo, ela gostava disso.
Os dois conversaram ali por horas, e isso se repetiu por vários dias, semanas, meses... O tempo foi passando e era rotina, os dois sempre se encontravam ali, quase todos os dias.
Laura agora já sabia de toda a história, e viu sua amiga pela primeira vez “apaixonadinha”, achou logo perigoso, e soube que agora era sua vez de ser a durona já que previu que logo Patrícia ia precisar dela.
Um dia no quarto de Patrícia as duas conversavam sobre tudo, até que surgiu o assunto “Pedro”.
Amiga, e o Pedro, notícias? — perguntou suavemente Patrícia.
Ah sim, nós conversamos bastante e decidimos, quer dizer, eu decidi que não quero levar isso adiante. — respondeu Laura com total certeza.
As duas conversaram sobre, mas Patrícia deixou a amiga enquanto se arrumava pra se encontrar com Henrique. Quando de repente seu celular tocou, Laura pegou o telefone e gritou:
Ih, é o Henrique! Acho que alguém está atrasada.
Henrique? — gritou Patrícia do banheiro e foi correndo atender. — Alô? — Patrícia mudou totalmente a expressão num segundo de empolgada a chocada. Laura se levantou da cama preocupada enquanto Patrícia se sentava na cadeira da penteadeira. — Mas, mas eu não entendo! Henrique, fala comigo, me explica?
Patrícia desligou o telefone e começou a chorar, Laura em desespero perguntou:
O que aconteceu? Porque você tá chorando? — disse com total compaixão.
Eu não entendi. — Patrícia tentava se explicar em meio suas lágrimas e soluços, o que nem ela fora capaz de entender. — Ele disse que nunca mais iríamos nos ver, disse que foi embora e eu não precisava saber para onde...
Laura ficou muito comovida pela amiga, mas antes que ela pudesse reagir, Patrícia deu um berro:
Quer saber? Eu não preciso dele, nunca precisei, se ele pensa que eu vou ficar aqui sofrendo por ele, se enganou. Hahahaha — e riu tentando confortar a sim mesma.
Patrícia, para! — disse Laura em tom de autoridade. — Você não precisa ser forte o tempo todo sabe? Sofrer é necessário, é aprendizado. E olha, você tem a mim. Eu vou estar sempre com você assim como você sempre esteve comigo. — Laura sorriu carinhosamente para Patrícia e se aproximou. — Você deve sim sofrer, mas não sozinha, eu estou aqui, sempre que você precisar. E por mais que eles nos deixem teremos sempre umas as outras.
As duas se abraçaram, se confortaram e ali ficaram por muito tempo, sentindo a verdadeira amizade. E nesse dia, Patrícia aprendeu, que por mais que ela fosse forte, era humana e havia de sofrer também, mas que em momentos de dor, ela poderia sempre contar com a força de Laura, sua única e melhor amiga, e porque não chamá-la de irmã?
Só quem já teve uma família na rua vai entender do que eu estou falando.” — Rashid

03 – 202

A chave dourada

Perto da casa de Marina, havia um bosque. Onde sempre brincava a tarde, mas nunca se afastava muito. Um dia, brincando com sua boneca preferida, apareceu um enorme e estranho rato. Eles se observaram por um longo tempo. De repente, o rato deu uma intrigante piscada para Marina, disse para ela o seguir e correram bosque a dentro.
Marina o seguiu por uns 15 minutos até chegarem em frente a um portal de pedras antigas, com palavras estranhas escritas no topo do portal. Marina se surpreendeu pois enquanto observava a escrita no portal esqueceu da presença do rato, que havia a levado até aquele lugar. Quando se virou para ver o rato, ele já não estava mais perto dela. Marina leu novamente o que estava escrito no portal, que dizia: “Leia e verás Maravilhas”. Curiosa como só, depois de ter lido, abriu-se um buraco do lado do portal, no qual tinha uma grande chave dourada.
Marina pegou a chave na qual tinha aparecido e pensou: “Onde vou achar o lugar onde esta chave se encaixa?”, mas se lembrou que ainda tinha aquele portal. Marina não sabia o que fazer, de repente ao ler novamente o que estava escrito, em meio a uma ventania e folhas voando para dentro do portal. Não sabia se o portal seria aberto depois da chave, mas antes de pegar a chave já tinha lido e o portal só se abriu depois que a chave foi pega.
Um ar gelado, juntamente com o medo, Marina enfiou sua cabeça dentro do portal que tinha acabado de se abrir, e rapidamente escorregou, caindo dentro do portal, sem sequer poder reagir. Tudo que Marina fizesse não chamaria atenção de ninguém, pois não havia nenhuma pessoa.
Marina já dentro do portal sem poder sair, notou que estava presa dentro de um enorme labirinto escuro, e assustador. Ela ficou apavorada sem saber o que fazer. De repente aquele estranho rato surge em meio a escuridão. Marina resolve não acompanhar o rato, já que na primeira vez ele não a levou em um lugar muito bom.
Mas o rato sumiu rapidamente como uma luz que se apaga. Marina achou estranho o rato reaparecer e sumir daquele jeito, mas no entanto o que ela mais queria era sair do labirinto e voltar para sua casa, mas pelo jeito não seria muito fácil.
Marina avistou várias aranhas enormes que a seguiam rapidamente, ela correu disparadamente, mas era difícil correr em um labirinto com aranhas a perseguindo, depois de uns 15 minutos Marina conseguiu fugir das aranhas, e agora o problema era outro ela tinha que arrumar um jeito de sair de lá rapidamente, e ela começou a andar pelo labirinto, tentando achar uma saída. Andou, andou, e nada, era tudo completamente fechado, até que Marina observou que havia uma coisa fazendo um barulho muito alto, que apareceu rapidamente tentando pegá-la de todo jeito.
Ela não podia sequer olhar o que era, mas olhou correndo e notou que era enormes crocodilos, Marina passou por um sufoco mas conseguiu fugir.
Ela então sentou-se em uma pedra que estava do seu lado para descansar. Olhou para cima e viu que estava aberto. Marina subiu então nos galhos, observou que muito perto, perto mesmo, tinha uma outra porta, muito parecida com aquela do começo, então ela andou até chegar lá.
Chegando lá percebeu que para abrir o portal, ela precisava de uma chave, na qual era igual aquela que ela tinha usado para abrir o primeiro portal.
Então procurou no bolso do vestido que ela usava, e achou a chave dourada. Num lugar onde tudo era grande, somente Marina era frágil. Apareceram vários lobos vindo para perto dela. Ela rapidamente com a chave em mãos abre o portal e em seguida o fecha para que os lobos não a peguem.
Já do lado de fora do labirinto, Marina se senta, respira fundo, e sorri de alívio. Ao chegar em sua casa, ela guarda a linda chave dourada para nunca se esquecer da grande aventura que viveu.

08 – 201

Um sonho que não acabou

Era uma vez uma jovem garota, bem animada, todos gostavam de sua presença e da alegria que ela trazia consigo. Ela era conhecida como Malu; e um jovem que vivia pelos seus sonhos, que se chamava Marcelo. Eles se conheceram quando estudaram na mesma escola, no último ano e sempre deram certo desde o começo da amizade, até que viram que não podiam viver mais separados, então começaram a namorar e acabaram se casando.
Marcelo trabalhava vendendo obras de artes, que eram sua paixão. E Malu era apaixonada com crianças e cuidava delas; mais ela não podia ter filhos, ela tinha descoberto isso a pouco tempo, foi de uma tristeza enorme para eles, e começaram a providencias as coisas para adotar uma criança. Um dia Marcelo teve de trabalhar até mais tarde, e Malu sempre chegava mais tarde que ele, e quase chegando em casa, recebeu um telefonema.
Chegando em casa, Marcelo notou que a porta da sala estava destrancada. Ele e Malu nunca deixaram de verificar as portas e janelas quando saíam. E achou estranho, pois já era para Malu estar em casa, estava tudo escuro. Então, entrou bem devagar olhando tudo a sua volta. Na sala e na copa, parecia tudo normal, não tinha sinal nenhum de que a casa tinha sido assaltada. Continuou andando sempre com muita atenção, pois aquilo tudo estava muito estranho para ele. Quando chegou à cozinha, ele não conseguia acreditar, que Malu tinha se matado, e tinha sangue para todo lado. Às pressas Marcelo liga para ambulância, mas quando os médicos chegam Malu não estava mais viva e não tinha como eles fazerem nada por ela.
Ele não conseguia entender o porquê ela tinha feito aquilo e estava sem vontade de viver, mas não ia desistir de encontrar uma explicação para tudo que havia acontecido. Marcelo não aguentava mais ver as coisas de Malu pela casa, sentindo seu cheiro por onde fosse, era como se ela tivesse ali ainda e nada tivesse acontecido nada. Então resolve juntar suas coisas para doar, ele sabia que isso seria o melhor que deveria ser feito e o que ela gostaria que ele fizesse. E mexendo nas coisas de Malu, ele encontra uma caixa, que nunca tinha visto e resolve abri-la; ele encontra um monte de exames de datas não muito distante e decidiu saber o que tinha em sua bolsa, encontrou um último exame, com a data do dia de sua morte. Como não entendia nada que esse exame dizia, procura o médico que nos papéis estava sua assinatura e marca um horário com Dr. Carlos.
No dia seguinte ele vai ao encontro do Dr. Carlos e explica ele tudo o que aconteceu, pedindo para que explicasse porque sua mulher estava consultando com ele, sem o conhecimento dele e o que dizia todos aqueles exames. Carlos explica que ela o procurou mais para tentar entender o porquê de não poder ter filhos e acabam descobrindo um câncer no cérebro e só restavam 2 meses de vida. Marcelo saiu do consultório desolado e vai para casa.
Chegando em casa ele se depara da mesma forma, como ele estava quando encontra Malu no chão e com todo aquele sangue e repara um pedaço de uma folha de papel de baixo do fogão e vai ver o que é. Era uma bilhete escrita por Malu, para ele.
Marcelo,
Descobri que não posso ter o que mais amo na vida e isso me deixou triste demais, mas a sua ideia e disposição de adotar uma criança junto comigo me fez ver um lado bom em meio a tanta tristeza. Eu acabei descobrindo que tenho um câncer no cérebro e só me restavam 2 meses de vida. Para mim saber que estou morrendo e não poder fazer nada é agonizante e só de pensar em ter que te deixar, não entram em minha cabeça e ainda ver que mesmo se conseguíssemos adotar uma criança eu não poderei ser uma mãe presente, pois irei partir logo. Mas nunca se esqueça de que eu o amo e não conseguiria pensar em ver um câncer me tirando de você e de um filho.”
Depois de terminar de ler o bilhete Marcelo não consegue parar de chorar. Ao acordar no dia seguinte, toma uma decisão, vai ter aquele filho que Malu tanto queria. Depois de um ano e meio, lutando para conseguir adotar uma criança, Marcelo consegue adotar uma recém-nascida a qual sua mãe havia morrido e coloca o nome que Malu tanto gostava e queria que sua filha tivesse: Sophia.
E apesar de nunca ter conseguido amar outra mulher como amou Malu, ele cria Sophia e ela se parece com sua amada que havia partido!

22 – 201