Patrícia
estava em uma festa na casa de amigos. A festa estava boa, mas já
estava quase no fim e ela decidiu ir embora com uma amiga.
Despediram-se de todos e foram caminhando para casa às 11 horas da
noite. No caminho não havia muita gente, pois estava muito frio
naquela noite. De repente elas se depararam com Pedro, uma antiga
paixão de Laura (a amiga que acompanhava Patrícia).
As
duas ficaram totalmente extasiadas ao vê-lo, já que 8 meses atrás
Pedro tinha saído da cidade e ido para Londres, onde decidiu morar
com seus tios para estudar Medicina.
— Incrível!
—
disse Pedro num tom meio tímido — Vocês ainda são exatamente as
mesmas de 8 meses atrás.
— Em
8 meses não se muda muita coisa. — Laura disse repentinamente,
talvez tentando insinuar alguma coisa.
Se
deu então um longo silêncio, mas foi logo quebrado por Patrícia...
— Olha,
eu vou deixar vocês dois aí conversando enquanto eu... dou uma
olhada ali naquelas árvores. — Disse Patrícia, num tom irônico
meio cômico.
Patrícia
foi se afastando lentamente tentando ouvir alguma coisa, mas a
tentativa foi inválida já que o silêncio permanecia entre Pedro e
Laura.
Quando
se deu por si, já estava bem distante dos dois, mas perto o
suficiente pra ver Laura estralando os dedos e mexendo no cabelo a
cada dois minutos. — Ela sempre age assim quando está nervosa —
pensou Patrícia em voz alta.
Seus
pensamentos e críticas logo foram interrompidos...
—
Já te disseram que é perigoso sair andando sozinha e desatenta a
essa hora da noite? — disse alguém, que era totalmente
desconhecido por Patrícia.
— Oi?
Não, mas já me disseram que é perigoso falar com estranhos, com
licença. Patrícia não poderia ter sido mais ignorante.
— Henrique!
— gritou o estranho ao ver Patrícia se afastar.
— Ãn?!
— Meu
nome, Henrique... e o seu?
— Não
acho que eu seja obrigada a dizer.
—
E não é, me diga só se quiser.
Ela
não tinha notado ainda, mas se virou pra traz e percebeu que o tal
estranho, Henrique, era totalmente charmoso, talvez o mais charmoso
que ela já tinha visto. Olhos pequenos, e o sorriso mais lindo que
poderia existir. Naquele momento Henrique fez com que Patrícia se
sentisse totalmente com raiva pela sua ousadia, e atraída pela sua
beleza, e isso com certeza a fazia se sentir muito idiota.
Após
ficar feito tonta admirando a beleza de Henrique, ela resolveu se
manifestar.
—
Patrícia...
— sussurrou ainda hipnotizada.
— Como?
— Patrícia!
— dessa vez disse em alto e bom som. — Que é? Além de estranho
é surdo?
Apesar
de estar totalmente encantada, Patrícia era “marrenta”, e isso
era o que a tornava interessante para os garotos. Sabendo disso, ela
não poderia perder a marra, não agora.
—
Hahahahaha!
— Henrique deu uma gargalhada tão alta e forte que Patrícia não
poderia saber se ele achou engraçado ou se debochava dela. —
Porque saiu tão cedo da festa?
— Estava
totalmente cansada, e minha amiga também então... — sem que ela
pudesse perceber já estava conversando com Henrique como se ele
fosse um conhecido.
— Mas...
onde está a sua amiga?
— Estranho,
surdo e cego, pena que não é mudo. — Patrícia disse totalmente
sarcástica e finalizou a frase dando seu melhor sorriso de ironia.
— Ou
talvez você seja maluca, porque aqui não tem ninguém além de mim
e você. — Henrique disse olhando em volta e sorrindo.
Quando
Patrícia olhou ao redor notou que realmente Laura e Pedro já não
estavam mais à vista, então começou a andar em direção de onde
tinha os deixado, sendo seguida por Henrique.
— Eles
têm que estar aqui, como pode? Será que eu andei demais? — disse
Patrícia em total desespero.
Seu
desespero foi interrompido por uma mensagem de Laura “Amiga,
você sumiu, eu vim pra sua casa e estou te esperando aqui, está
tudo bem?” Patrícia
suspirou aliviada e respondeu a mensagem. Depois disso se virou para
Pedro e disse:
— Eu
preciso ir, minha amiga está me esperando.
— E
eu também estarei.
— Oi?
— Eu
estarei te esperando amanhã, aqui mesmo, às duas da tarde, pode
ser?
— Pode.
— Patrícia se arrependeu antes de terminar de dizer. — Eu...
preciso ir, tchau.
Antes
que ela pudesse olhar pra trás Henrique já tinha sumido, então ela
foi para casa.
>— Sua
maluca! Onde você estava cretina? Eu e Pedro te procuramos por um
tempão. — já foi dizendo Laura, brava e curiosa.
— Ah,
não importa, me diz você. E o Pedro, e vocês, e aí?
—
Conversamos
muito pouco, na maior parte do tempo reinou o silêncio, trocamos
telefones e ele ficou de me ligar.
— Mas
você acha que vocês vão se resolver?
— Não
sei, não sei se quero, muita coisa mudou...
— Tá
louca? E todos esses meses que eu fiquei ouvindo o nome dele a cada
dois minutos? Foi em vão? — disse Patrícia tentando aliviar a
tensão que a amiga transparecia.
As
duas riram e conversaram bastante ali mesmo. Subiram para o
apartamento de Patrícia e enquanto ficaram comentando e rindo sobre
a festa, Patrícia não pode deixar de notar que Laura olhava muito
para o celular. Ela sabia que a amiga gostava muito de Pedro, mas
também sabia que ele não era dos mais confiáveis. Ela se lembrava
perfeitamente de quando Pedro fez sua amiga sofrer pelo fato de ter
sumido da cidade de repente, e ela sabia que Laura ainda precisava
dela assim como precisou a alguns meses atrás quando tudo aconteceu.
Entre tantos pensamentos, Patrícia se pegou pensando: Engraçado,
nunca fui deixada, meu coração nunca foi partido por ninguém, isso
é uma dádiva ou uma dívida? Já ouvi tanto que sofrer faz parte da
vida. Sorriu,
pois se sentia totalmente forte, e precisava ser, já que Laura era
muito frágil. Era assim, exatamente assim, Patrícia era sempre o
porto seguro de Laura, e nunca sequer precisou de um conselho ou
qualquer ajuda que não fossem relacionados a roupas.
Patrícia
não comentou nada com Laura sobre o gato estranho, e ainda estava
pensando se ia mesmo se encontrar com Henrique no dia seguinte.
As
duas adormeceram enquanto fofocavam, o dia amanheceu e Laura foi pra
sua casa. A manhã inteira Patrícia ficou vivendo o famoso “Vou ou
não vou?” quando olhou no relógio e viu que já eram uma da
tarde, decidiu se arrumar e ir.
Quando
chegou lá Henrique já estava, ele sorriu pra ela de longe e veio
andando em sua direção.
— Algo
me dizia que você viria mesmo. — disse Henrique em meio a um
sorriso encantador.
— Ah,
para, eu decidi vir de última hora, você não está podendo tanto
assim. — Laura se viu totalmente nas mãos de alguém em tão pouco
tempo, isso nunca havia acontecido, e por mais que ela se sentisse
com medo, ela gostava disso.
Os
dois conversaram ali por horas, e isso se repetiu por vários dias,
semanas, meses... O tempo foi passando e era rotina, os dois sempre
se encontravam ali, quase todos os dias.
Laura
agora já sabia de toda a história, e viu sua amiga pela primeira
vez “apaixonadinha”, achou logo perigoso, e soube que agora era
sua vez de ser a durona já que previu que logo Patrícia ia precisar
dela.
Um
dia no quarto de Patrícia as duas conversavam sobre tudo, até que
surgiu o assunto “Pedro”.
— Amiga,
e o Pedro, notícias? — perguntou suavemente Patrícia.
— Ah
sim, nós conversamos bastante e decidimos, quer dizer, eu decidi que
não quero levar isso adiante. — respondeu Laura com total certeza.
As
duas conversaram sobre, mas Patrícia deixou a amiga enquanto se
arrumava pra se encontrar com Henrique. Quando de repente seu celular
tocou, Laura pegou o telefone e gritou:
— Ih,
é o Henrique! Acho que alguém está atrasada.
— Henrique?
— gritou Patrícia do banheiro e foi correndo atender. — Alô? —
Patrícia mudou totalmente a expressão num segundo de empolgada a
chocada. Laura se levantou da cama preocupada enquanto Patrícia se
sentava na cadeira da penteadeira. — Mas, mas eu não entendo!
Henrique, fala comigo, me explica?
Patrícia
desligou o telefone e começou a chorar, Laura em desespero
perguntou:
— O
que aconteceu? Porque você tá chorando? — disse com total
compaixão.
— Eu
não entendi. — Patrícia tentava se explicar em meio suas lágrimas
e soluços, o que nem ela fora capaz de entender. — Ele disse que
nunca mais iríamos nos ver, disse que foi embora e eu não precisava
saber para onde...
Laura
ficou muito comovida pela amiga, mas antes que ela pudesse reagir,
Patrícia deu um berro:
— Quer
saber? Eu não preciso dele, nunca precisei, se ele pensa que eu vou
ficar aqui sofrendo por ele, se enganou. Hahahaha — e riu tentando
confortar a sim mesma.
— Patrícia,
para! — disse Laura em tom de autoridade. — Você não precisa
ser forte o tempo todo sabe? Sofrer é necessário, é aprendizado. E
olha, você tem a mim. Eu vou estar sempre com você assim como você
sempre esteve comigo. — Laura sorriu carinhosamente para Patrícia
e se aproximou. — Você deve sim sofrer, mas não sozinha, eu estou
aqui, sempre que você precisar. E por mais que eles nos deixem
teremos sempre umas as outras.
As
duas se abraçaram, se confortaram e ali ficaram por muito tempo,
sentindo a verdadeira amizade. E nesse dia, Patrícia aprendeu, que
por mais que ela fosse forte, era humana e havia de sofrer também,
mas que em momentos de dor, ela poderia sempre contar com a força de
Laura, sua única e melhor amiga, e porque não chamá-la de irmã?
“Só
quem já teve uma família na rua vai entender do que eu estou
falando.” —
Rashid
03
– 202